Como Comparar Preços

Quinta-feira, 14 de Março de 2013

Definição do escopo das cotações de preços viabiliza a comparação, sobre base comum, dos valores passados por fornecedores de serviços ou materiais. Medida evita a comparação de dados diferentes e a armadilha da falsa economia
Por Juliana Nakamura
 

Comparar preços de projetos, insumos e serviços em busca de economia é parte do dia a dia de orçamentistas e do pessoal de planejamento das construtoras. Só que, mais do que atividade rotineira, analisar cotações corretamente é algo crucial para a realização de boas compras e, consequentemente, para o desempenho das construtoras. Basta lembrar que uma comparação de preços malfeita pode induzir à compra de produtos mais caros ou, até mesmo, indevidos.

A tarefa seria simples se as empresas participantes das concorrências trabalhassem da mesma forma e sempre fornecessem orçamentos considerando exatamente os mesmos itens. Mas na realidade "cada fornecedor, fabricante, revendedor, distribuidor, subempreiteiro ou prestador de serviço apresenta a cotação em formato próprio e, o que é muito comum, nem todas as cotações incluem o mesmo escopo", salienta Aldo Dórea Mattos, consultor em gerenciamento de projetos e obras e autor dos livros "Como preparar orçamento de obras" e "Planejamento de controle de obras", ambos pela Editora PINI.

O construtor precisa estar atento, pois o processo de cotação de preços pode esconder uma série de itens de grande peso no preço final, como serviços não agregados. Isso é visível, por exemplo, durante a compra de esquadrias. Os valores de fornecedores que oferecem a esquadria pintada não podem ser comparados diretamente aos de empresas que disponibilizam as peças sem pintura. Nesse tipo de situação, para fazer a comparação justa, o orçamentista precisa adicionar à segunda cotação o custo da pintura para que os valores fiquem todos na mesma base. "A complexidade desse trabalho depende do grau de detalhamento da cotação mais completa. Se ela individualiza os valores de cada etapa (fornecimento, pintura), o orçamentista busca a parcela que falta na outra cotação e preenche a lacuna. Quando os valores não estão individualizados, ele precisa orçar a parcela de serviço que falta na proposta incompleta", explica Mattos.

Assim como a necessidade de contratação de serviços extras, existem outros detalhes que precisam ser considerados na avaliação de cada orçamento recebido. Há fabricantes que apresentam preço baixo, porém ressalvam, normalmente em letra pequena, de que tal preço só vale para compras acima de determinada quantidade. Outra situação muito recorrente é a não inclusão dos impostos envolvidos no preço anunciado. Mattos lembra, ainda, que, "quando se trata de cotações de serviços terceirizados, a disparidade também acontece, pois há empreiteiros que embutem no preço itens como andaimes e limpeza final".

A inclusão ou não no preço anunciado dos custos de frete (seguro, transporte, carga e descarga etc.) é outro ponto ao qual os orçamentistas precisam prestar atenção. O Preço FOB (free on board, ou livre a bordo) refere-se à mercadoria disponibilizada no local de fabricação ou armazenamento. É o preço "posto na fábrica" ou "a retirar". Caso receba uma cotação com esse tipo de preço, o orçamentista deverá somar as despesas adicionais de carga, transporte, seguro, descarga, diferença de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços), se comprado em outro Estado etc. Já o preço CIF (cost, insurance and freight; ou custo, seguro e frete) inclui a mercadoria e os custos de seguro e frete. Esta é a modalidade tradicionalmente conhecida como preço posto na obra. Nesse caso, o orçamentista não terá que somar nenhum valor ao preço dado pelo vendedor.

 

 

 

Marcelo Scandaroli
Devido ao alto nível de detalhamento demandado, orçamentos de tubos e conexões hidráulicos, por exemplo, tendem a sofrer com problemas de imprecisão, o que dificulta ou até inviabiliza a comparação entre fornecedores

Tudo às claras

 

De acordo com o engenheiro Pedrinho Goldman, consultor na área de planejamento de edificações e diretor da Pekman Engenharia, para que as análises por parte das construtoras possam ser feitas de forma adequada, as solicitações das propostas orçamentárias precisam ser feitas preferencialmente por meio de projetos detalhados, memoriais descritivos e descrição dos processos construtivos. Isso representa grande desafio aos construtores, já que, muitas vezes, depois que o departamento de orçamento solicitou as primeiras cotações, o pessoal de desenvolvimento de produto ainda pode alterar o projeto em função das incertezas inerentes à atividade construtiva.

"De forma geral, quanto mais detalhadas as informações, mais precisos serão os orçamentos", comenta Gold­man. Ele destaca que, no caso da análise comparativa de quantidades e preços, é desejável que a construtora forneça a sequência das atividades, as descrições e unidades correspondentes às atividades, sempre de acordo com plano de contas específico da empresa. "Esta sequência deve corresponder à mesma itemização realizada pela construtora para o orçamento e o acompanhamento do empreendimento", recomenda o consultor.

Para Goldman, a metodologia mais adequada para a comparação de orçamentos dos fornecedores e prestadores de serviços é utilizar a ordenação dos serviços pelo plano de contas da construtora adotado na elaboração do planejamento, do orçamento e do acompanhamento dos custos de construção. Também é recomendável o uso de planilha comparativa dos materiais e serviços de construção que contemple a descrição dos materiais e serviços, as quantidades, as unidades, os preços unitários e os preços totais de cada uma das empresas (ver tabela).

 

 

Fonte: Pedrinho Goldman

 

"Os itens de cada proposta alinhados às previsões orçamentárias possibilitam a equalização de dados, tornando-se inclusive ferramenta valiosa para a negociação da construtora com seus prestadores de serviços", afirma Goldman.

Por exigir muita organização e leitura crítica de todas as propostas, a montagem do processo de comparação de propostas geralmente consome muito tempo e esforço das equipes de orçamento. Edvaldo Ferreira, gestor de planejamento da Construtora Eztec, revela que uma solução muito útil para racionalizar esse processo é a elaboração de cartas-convite para os itens a serem contratados ou adquiridos. "Nesse documento, o construtor tem a possibilidade de definir claramente o escopo a ser contratado e também exigir o detalhamento de todos os impostos incidentes e se eles estão inclusos ou não no preço", diz Ferreira, lembrando que, sem essa padronização, a construtora precisa dispor de equipe interna muito maior para fazer a análise e o balizamento das propostas.

Como se fosse um minimemorial descritivo, a carta-convite deve contemplar as particularidades dos sistemas e serviços a serem adquiridos. No caso de tubulação hidráulica, por exemplo, é possível especificar as marcas dos produtos aceitos pela construtora para não correr o risco de receber proposta que considere o uso de produtos de segunda categoria.

 

Contratação de serviços

Antônio Emilio Clemente Fugazza, diretor financeiro e de relações com investidores da Eztec, conta que, ao comparar preços, as maiores dificuldades estão mais concentradas na parte de serviços do que de materiais. Isso porque pode ser muito difícil identificar o motivo da disparidade de preços entre as empresas que atuam nesse segmento. "A diferença pode estar em salários que são pagos à mão de obra, nos equipamentos de segurança individual, na racionalidade de trabalho etc.", salienta.

No caso da Eztec, a solução encontrada para minimizar essas dificuldades foi fidelizar os bons prestadores de serviço. Isso acaba sendo positivo para a construtora, que tem a segurança de se relacionar com empresa já testada e aprovada, e também para o fornecedor, que já está familiarizado com a metodologia de trabalho da construtora.

No caso da contratação de serviços, antes de fechar o contrato, é importante exigir que o fornecedor informe o número de pessoas que irão trabalhar no canteiro para executar aquele determinado serviço, recomenda Paula Guerrini, gestora de orçamentos da Eztec. Afinal, a falta de pessoal pode, no decorrer do cronograma, afetar o prazo e o andamento da obra.

 

 

ilustrações: design/shutterstock

Contratação de projetos e materiais

 

Assim como ocorre para a contratação de serviços, a comparação de preço de projetos também é atividade bastante complexa. Não basta apenas colocar o preço cobrado por cada profissional lado a lado. É preciso considerar a produtividade e as soluções sugeridas pelo projetista, que podem se reverter em economias em etapas subsequentes. Paula Guerrini dá um exemplo de falsa economia, que pode sair caro. "Às vezes um projeto estrutural inicialmente mais barato pode implicar taxas de consumo e concreto e aço muito elevadas, impactando o custo da obra", conta, ressaltando que também vale a pena para a construtora manter-se fiel aos bons projetistas.

No caso da compra de materiais, o processo de comparação costuma ser mais simples, sobretudo para as construtoras que trabalham com fornecedores previamente homologados, submetidos a algum controle de qualidade. Nesses casos, a recomendação é pedir as cotações por meio de especificações claras, projetos detalhados, memoriais descritivos etc. Isso ajuda a garantir que todos os participantes da concorrência terão à sua disposição a mesma descrição dos itens a serem cotados. "Quando as solicitações são incompletas, corre-se o risco de receber propostas com descrições de materiais e serviços não padronizados, impedindo a análise adequada dos preços", ressalta Pedrinho Goldman. Exemplo desse tipo de problema do qual os construtores devem fugir está o recebimento de cotações de preços unitários por unidades de medida variadas e de propostas com diferentes quantidades de itens.

 

Como sedá a comparação de preços

 

Sergio Colotto

1) Contato inicial: durante a formação do preço inicial, o orçamentista pode solicitar propostas de diferentes prestadores de serviço. Nesse momento, a construtora também deve validar o preço obtido junto ao seu histórico de preços, que serve de referência. O resultado desse trabalho inicial vai para o orçamento-base.

 

Sergio Colotto

2) Seleção de concorrentes:de posse do orçamento-base, que direciona as negociações, a construtora seleciona quais são os fornecedores com os quais quer negociar (geralmente fornecedores previamente homologados pela construtora e com histórico positivo de prestação de serviços).

Sergio Colotto

3) Cotação detalhada: a essas empresas é enviada carta-convite na qual são especificados os itens a serem cotados (especificação de materiais, quantidades, frete, prazo e condições de entrega, impostos, garantias etc.). Os itens podem variar de acordo com o tipo de material ou serviço contratado.

 

 

Sergio Colotto

4) Mapa de cotação: as empresas interessadas em participar da concorrência devem enviar suas propostas no modelo solicitado pela construtora. O departamento de compras da construtora coloca os orçamentos recebidos lado a lado de forma a facilitar a comparação e perceber o que está incluso em cada proposta.

 

 

Sergio Colotto

5) Contratação: depois que a construtora conseguiu estabelecer uma base padronizada para comparação, é capaz de tomar a decisão sobre a compra ou contratação do serviço, consciente dos valores pagose das condições estabelecidas.

 

 Cuidados ao comparar cotações

ilustrações: design/shutterstock

Especificações técnicas

 

Quem cota preços no mercado deve atentar para a correta especificação contida no edital e no projeto. É preciso fornecer a descrição qualitativa do material, com informações de dimensões, peso, cor, resistência etc. No caso de equipamentos ou materiais pouco comuns, é costume informar no pedido a relação de normas técnicas que devem ser atendidas

ilustrações: design/shutterstock

Quantidade

 

Geralmente, o preço unitário do produto é inversamente proporcional à quantidade adquirida. O bom comprador fica atento à possibilidade de compras conjuntas para várias obras da empresa, o que aumenta o poder de negociação diante dos fornecedores

ilustrações: design/shutterstock

Unidade e embalagem

 

O tipo de embalagem em que o material deve vir acondicionado tem impacto no preço. Blocos cerâmicos, por exemplo, podem vir soltos sobre o caminhão ou paletizados; cimento pode ser comprado em sacos ou a granel; tinta pode ser adquirida em lata ou galão

ilustrações: design/shutterstock

Prazo de entrega

 

O período compreendido entre o pedido e a entrega do material é de suma importância, principalmente quando se trata de produto especial. É o caso de elevadores, esquadrias especiais, cerâmicas, mármores, produtos importados etc.

Condições de pagamento

 

A empresa que adquire o bem precisa se programar para fazer o desembolso. Por isso, é importante saber que tipo de facilidades o fornecedor concede quanto a prazo para pagamento

ilustrações: design/shutterstock

Proposta

 

Os fornecedores costumam atribuir prazo de validade às cotações. É importante verificar se a época provável da compra está atendida pelo prazo da proposta

ilustrações: design/shutterstock

Frete

 

É preciso checar se o preço fornecido considera custos relacionados a frete, incluindo seguro, transporte, carga e descarga etc.

 

Fonte: http://revista.construcaomercado.com.br/guia/habitacao-financiamento-imobiliario/127/artigo245793-1.asp?o=r







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